sábado, dezembro 17, 2005

Miguel Sousa Tavares sobre o Cavaquismo

“Governava então, no apogeu da maioria absoluta, Aníbal Cavaco Silva. Não consegui evitar nunca uma incurável embirração pelo cavaquismo, mais do que pelo seu mentor. De um ponto de vista prático, reconheci a importância das obras feitas, o crescimento económico possibilitado pelo muito dinheiro aplicado, que os fundos europeus e o petróleo barato proporcionaram. Mas fui constatando e escrevendo que nenhuma verdadeira reforma tinha sido ensaiada, apesar das excepcionais condições para tal. Hoje, continuo a pensar que a generalidade dos problemas que enfrentamos e a desesperança que se instalou têm origem directa nesses anos (depois acrescentados aos do guterrismo), em que nada de essencial se mudou na educação, na justiça, na saúde, na reconversão agrícola e industrial e, sobretudo, numa cultura política e cívica fundada no mérito, na coragem de correr riscos, na liberdade individual e na separação entre o Estado e os negócios privados.Pelo contrário, o cavaquismo instalou a promiscuidade entre os empresários e o poder político, a subsidiodependência, a mentalidade dos jobs for the boys, o enriquecimento sem causa e a obediência e subserviência como dever cívico. Cumulada de dinheiro, lugares e favores, a grande oportunidade europeia transformou-se na grande oportunidade para virem ao de cima e florescerem impunemente os piores defeitos dos portugueses. Em lugar de riqueza o país produziu apenas novos-ricos, em lugar de desenvolvimento obras de fachada, em lugar de qualificação negócios desonestos com os dinheiros do Fundo Social Europeu, em lugar de reconversão agrícola e ordenamento do território Porshes, subsídios para nada fazer e urbanizações nas falésias do Algarve". Miguel Sousa Tavares, in Público, 16 de Dezembro 2005

nunca gostei deste homem, mas que ele diz coisas acertadas diz...
e ainda dizem que o cavaco é bom??
sorry a paragem a que o blog se viu, mas o tempo nao da pra tudo e o frio bloqueia os dedos :)

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